Historiador Curioso (2024)

Por|2 de novembro de 2019

Os tigres e o seu estatuto de espécie em extinção fizeram deles, com razão, o exemplo da preservação. Eles são animais lindos que deixaram uma marca duradoura na história através de seu simbolismo de força e domínio. Eles são geralmente animais amados hoje. No entanto, se você olhar nos olhos de alguém, digamos, em um zoológico, há um indício de medo primitivo de como é ser caçado.

Não faz muito tempo que os tigres eram uma das criaturas mais temidas do planeta Terra. Isto é por uma boa razão – os tigres atacam e matam pessoas. Um estudo mostrou que entre 1800 e 2009 ocorreram 373 mil mortes relacionadas a ataques de tigres ou 1.784 por ano. O maior número de mortes ocorreu no Sul e Sudeste Asiático. De todos esses ataques de tigres, o mais mortal veio de uma tigresa chamada Tigre Champawat, que matou cerca de 436 pessoas.

O tigre Champawat era originário do Nepal, onde conseguiu matar aproximadamente 200 pessoas a partir de 1903, antes que os napaleses o expulsassem (sem matá-lo) para a região de Kumaon, na Índia, no início do século XX. Após a chegada do tigre, ela conseguiu matar outras 234 antes que um governo exasperado chamasse Jim Corbett.

Edward James Corbett nasceu em 25 de julho de 1875, filho de colonos britânicos na Índia. Ele havia se tornado coronel do exército indiano britânico. Talvez tenha sido por ter nascido na Índia que Corbett não exibiu o mesmo tipo de atitude racialmente superior que outros britânicos tinham em relação às colónias. Ele entendia perfeitamente as línguas locais e apreciava a cultura indiana. Criado no vale de Nainital e na região de Kaladhungi, repleto de maravilhas naturais, ele cresceu apreciando a vida selvagem e a necessidade de conservá-la. Como era típico dos primeiros naturalistas, ele começou a caçar e via a conservação da vida selvagem mais como uma forma de preservar o estoque para os caçadores do que a preservação da ecologia.por si só. Sua habilidade como caçador era bem conhecida, embora esta fosse a primeira vez que ele tentaria capturar um suposto “devorador de homens”.

À medida que aumentavam as depredações do “Devorador de Homens” de Champawat, o governo convocou Corbett. Corbett concordou em caçar o tigre sob duas condições. Primeiro, que o governo cancele quaisquer recompensas oferecidas ao tigre, até mesmo para si mesmo, uma vez que ele não desejava ser considerado um caçador de recompensas, considerando-se um esportista. Em segundo lugar, que todos os outros que caçam o tigre sejam chamados de volta. Corbett tinha medo de levar um tiro acidental.

Após uma marcha, Corbett chegou com vários assistentes a uma aldeia perto de Champawat. A aldeia, composta por cerca de 50 moradores, estava em alvoroço devido aos ataques dos tigres. A última vítima foi uma adolescente. As pessoas tinham medo de sair de casa – aparentemente, os seus suprimentos de comida estavam acabando.

Corbett passou a primeira noite ao ar livre procurando perseguir a tigresa ao longo de uma estrada que ela patrulhava rotineiramente. No entanto, Corbett também estava cheio de medo de ser caçado. Corbett escreveu: “...quando o vento noturno agitou os galhos e as sombras se moveram, vi uma dúzia de tigres avançando sobre mim e me arrependi amargamente do impulso que me induziu a me colocar à mercê do devorador de homens. Não tive coragem de voltar à aldeia e admitir que também estava com medo de cumprir a tarefa que me impusera e, com os dentes batendo, tanto de medo quanto de frio, passei a longa noite sentado.

Quando Corbett regressou à aldeia pela manhã, os aldeões ficaram surpresos ao vê-lo vivo. Corbett investigou mais a fundo as mortes e foi convidado a ficar de guarda enquanto os aldeões colhiam o trigo - caso contrário, não o teriam feito por medo da tigresa. A colheita prosseguiu conforme planejado, sem nenhum sinal do tigre. O próprio Corbett estava hesitante em procurar o tigre, embora soubesse que os aldeões poderiam mostrar-lhes a vizinhança de onde o grande felino provavelmente estaria. Foi necessária uma caçada bem-sucedida de três cervos que conquistou totalmente a confiança dos moradores em Corbett, além de aliviar o nervosismo de Corbett e de seus homens sobre a caça ao temido tigre.

Os aldeões guiaram Corbett até o local do último ataque. Depois de examinar as pegadas do animal, ele determinou que o tigre era uma fêmea, “um pouco além do seu apogeu”. Um exame mais aprofundado revelou a cena, como a menina estava coletando galhos quando de repente foi agarrada pelo pé pelo tigre. Então ela foi levada pela garganta para a floresta. Então Corbett encontrou os restos mortais - apenas alguns pedaços de osso que embrulharam em pano para que pudessem ser cremados. Havia também algumas roupas. Nada mais.

Corbett investigou outros ataques. Num caso, ele entrevistou uma mulher que testemunhou a irmã ser levada pelo tigre. Quando Corbett a informou de sua intenção de atirar no tigre, ela juntou as mãos e tocou seus pés, como se estivesse suplicando. Isso fez com que Corbett se sentisse miserável. Ele escreveu: “É verdade, eu vim com o objetivo declarado de atirar no devorador de homens, mas com um animal que tinha a reputação de nunca matar duas vezes na mesma localidade, nunca mais voltar a matar, e cujo domínio se estendia por uma área em muitas centenas de quilômetros quadrados, a chance de alcançar meu objetivo era tão boa quanto encontrar uma agulha em dois palheiros.”

Durante três dias, Corbett vagou pela selva durante o dia. Sem nenhum sinal do tigre, ele seguiu para Champawat propriamente dito, a cerca de quinze milhas de distância. Quando chegou, Corbett conseguiu reunir um grupo de cerca de trinta homens, ansiosos para livrar o distrito do tigre. Enquanto viajava, ouviu mais histórias sobre os ataques do tigre. Foi enquanto estava aqui que ele de repente recebeu a notícia de um novo ataque de tigre a uma adolescente. Correndo para o local, ele encontrou poças de sangue e uma trilha que levava mais fundo na selva. Enquanto ele avançava, um homem aterrorizado da aldeia, armado com um rifle, juntou-se a ele. Ele estava sob ordens do chefe da aldeia para acompanhar Corbett.

Isso irritou Corbett, pois ele estava determinado a ir sozinho. Ele ordenou ao aldeão que tirasse as botas pesadas. Eles seguiram a trilha até um curso de água. Corbett ordenou ao homem que se posicionasse sobre uma grande rocha. Algo que ele fez com gratidão, enquanto Corbett prosseguia.

Ele encontrou a tigresa comendo sua refeição à beira de um lago perto de uma ravina. Perto estavam os restos da perna da jovem. Corbett olhou para ele com fascinação mórbida antes de cair em si. Ele pegou seu rifle e colocou os dedos no gatilho. Ao som do rifle, a tigresa virou-se para o mato. Houve então rosnados. Era uma coisa estranha que Corbett esperava que precipitasse um ataque e trouxesse o tigre para fora. Em vez disso, ela fugiu para o mato.

Corbett voltou correndo para organizar uma ronda de aldeões para expulsar o tigre. Em terreno difícil, centenas de homens disparando armas de fogo e fazendo barulho marcharam, tentando expulsar o tigre até Corbett, que havia assumido uma posição para interceptá-lo. O tigre finalmente emergiu.

A tigresa não caiu facilmente. Corbett disparou várias vezes antes de o trabalho ser concluído. Mais tarde, Corbett examinou o cadáver e descobriu que os caninos superiores e inferiores direitos estavam quebrados. Corbett concluiu: “Esse ferimento permanente em seus dentes – resultado de um ferimento à bala – a impediu de matar sua presa natural e foi a causa de ela se tornar uma devoradora de homens”.

Jim Corbett ganhou fama caçando muitos outros tigres e leopardos que mataram humanos. Na maioria dos casos, como o tigre Champawat, estes “comedores de homens” tinham sofrido feridas ou doenças que os impediam de caçar as suas presas normais. Hoje, um parque nacional na Índia leva o seu nome e é uma reserva valiosa para os tigres de Bengala. Além disso, o tigre indo-chinês,Panthera tigris corbetti, foi nomeado em sua homenagem. Ele morreu de ataque cardíaco em 1955, enquanto estava aposentado no Quênia.